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quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

CADEIRA VAZIA...

CADEIRA VAZIA...


Cansada pela idade, mas sempre sorrindo, que era a sua marca, ali estava sentada na cadeira de balanço, rezando no seu terço, olhar fixo no tempo ou para quem chegava. Sempre assistida, e bem, pelas minhas irmãs Iris Chaves, Iricéia, Iricelma e outros, a “centenária” D. Zefinha era o xodó de todos os filhos, netos, bisneto, amigos da família, conhecidos e, às vezes, de pessoas estranhas que tiveram a oportunidade de conhecê-la e com ela conviver, mesmo que por momentos. Hoje a cadeira está vazia.

Eu não poderia ser uma exceção, mesmo porque sou filho e costumava brincar, avivar sua cansada memória fazendo perguntas do passado sempre relativas à sua pessoa. E ela brincava comigo, sorria, perguntava-me, às vezes, deixando-me feliz e participativo da sua vida, associando-me à sua longevidade. Naquele tempo a cadeira de balanço estava muito bem ocupada. Hoje está vazia, sem Ela.

Naquela cadeira ela contava história, lembrava o passado, falava, com vaga memória, de seus tempos de criança embora não lembrasse o passado recente, ou presente. E cantava! Sempre que alguém lhe pedisse ou iniciasse uma canção do seu conhecimento, com a voz rouca ela entoava algumas estrofes numa patente prova da “cansada” lucidez. Nem mesmo aos 100 anos esqueceu “não que mais saber de ver a lua”, etc.

Era a sua canção preferida, como se representasse algo muito importante no passado. Interpretava toda canção com lucidez e tinha como acompanhamento um coral formado por filhos, netos, bisnetos, amigos e todos aqueles que a rodeavam. Isso a qualquer hora do dia ou da noite estava sempre disposta à oferecer esse momento de lazer pessoal e imensa alegria  à quem estivesse a rodeá-la.

Se aproximando dos 100 anos, um século de vida, a lucidez já não era tanta. Falhava, mas não perdia a oportunidade de perguntar. “Quem é o senhor?”. “Sou o seu filho! Se lembra de mim?”. “Iris, ô Iris, como chama meu filho?”, perguntava. Eu imediatamente respondia. “Sou eu, mamãe. Adamastor!”. Então ela lembrava e, pasmem, imediatamente perguntava por Brunna. Ficava por ali.

Brincadeiras eu fazia, tudo na intenção única de vê-la sorrindo e, se possível, se lembrar do passado. Já acometida pelo Alzheimer, que a prejudicava nas suas lembranças, poucas recordações, embora sempre firme quando eu lhe perguntava onde nasceu (Lagoa de Monteiro), nome do pai (Tertulino Ferreira), mãe (Joaquina Ferreira). Esses nomes não saiam do seu pensamento. Não gostava quando eu pronunciava errado o nome do pai (eu José, etc). Eladizia, “Tertulino e não José”.

Agora está lá, a cadeira vazia. A mesma cadeira onde viveu seus últimos anos até chegar à centenária idade. A cadeira de balanço está vazia, é verdade, mas nela ficou a recordação de uma guerreira que nunca se furtou a vontade de fazer o bem sem olhar a quem. Fica a lembrança a nos todos da sua presença, da sua voz, embalando “não quero mais saber de ver a lua, de ver a imagem tua, surgindo na escuridão”.

“Entre tu e o perigo está o sangue de Cristo”, frase que costumeiramente ela dizia à todos que dela se despedia. Lá no Céu, com o espírito rejuvenescido, junta àqueles que do Senhor tiveram o privilégio da sua companhia, certamente está repetindo essa frase que marcou, em vida, todos aqueles que dela dizia até logo. A cadeira está vazia, sem Ela, é verdade, mas em nossos corações a certeza de que em outra, no Céu, ao lado de Deus, ela está sentada, sorrindo e feliz.

Seu filho, Adamastor Chaves.

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